sábado, 20 de junho de 2009

8- relacionamento

Há dias não escrevo, sem tempo e agora neste exato momento, com tempo e sem inspiração. Iniciei falando de amor parei e não consigo continuar. Talvez seja a minha maior dificuldade, amar e desejo.
Digo sempre que a coisa mais difícil na vida, fora doença, é o relacionamento, seja intimo, no trabalho, ou amizade. Lidar com as pessoas é algo difícil, que se aprende ao longo da vida. Haja sabedoria e nem todos são sábios.
Quando resolvi selecionar minhas amizades, minha vida ficou mais tranqüila, mais leve. Tenho no meu círculo de amizade os meus melhores amigos, àqueles a quem posso dizer não, sim, vamos, não vou, vai, gosto, não gosto, quero, não quero, tudo bem, tudo mau, atrasei, desculpe, perdão, rir, chorar, dar o ombro, dar de ombro, sumir, chegar, telefonar, não telefonar, sair, não sair, sem cobranças. Aqueles que me entendem e eu os entendo, aqueles que sei os defeitos e que sabem os meus defeitos, mas nossas qualidades superam tudo. Aqueles que são tão diferentes e tão iguais ao mesmo tempo. Encontrar estes verdadeiros amigos às vezes é uma jornada de vida. Digo que os melhores amigos é uma segunda família que formamos, mas aqui fazemos a escolha. Ter essa sorte na vida é tudo.
A escritora portuguesa Maria Inês Pedrosa nos presenteia com uma frase perfeita: “Só aos amigos é dado o espetáculo da nossa miséria”.
Relacionamento a dois, no âmbito ‘romântico amoroso’... tem toda uma história...outra história. E o pior, é um encontro sem seleção, além da razão...
- Não seria, então, outra forma de amor?

- Lembro-me da casa da avó, era uma casa com porão, hoje não existem casas com porão. Elevavam as casas do solo.
- É mesmo, a engenharia resolveu todos os problemas e a arquitetura perdeu seu mistério.
- Guardo na memória este mistério, o desejo e o medo de explorar esta caverna arquitetônica.
O buraco, o chão batido, o teto roçando a minha cabeça, o medo, as descobertas, pisar em objetos velhos, perdidos, baratas e ratos mortos, quanto medo, riscos e depois a sensação heróica da coragem.
- Os mistérios nos mantêm na inocência... Quando você perdeu sua inocência? Você se lembra?
- Não sei nitidamente, mas me lembro de um fato marcante. Lembro-me do Carnaval. Quando criança adorava as matinês. Passava um mês inteiro inventando minha fantasia, de havaiana, de egípcia, de pirata. Era pura magia chegar fantasiada no clube para no ultimo dia sair pulando pelas ruas da cidade, despedindo da fantasia e já ansiando pelo próximo ano. Aos 12 anos meu pai permitiu que eu fosse pular à noite acompanhada dos meus primos maiores e sob a vigia dos meus tios. Acho que eu era ainda muito inocente e, não entendi muito os abraços e beijos e a bebida e a folia desabafada das angustias e desejos. Algo me decepcionou, não sei bem o que, e os outros carnavais foram bem diferentes daqueles até os meus doze anos. Perdi um pouco da inocência.
- Perdemos a inocência quando deixamos de acreditar em Papai-Noel.
- Um amigo, ateu e cético me disse em segredo que quando era criança ele jura que viu Papai-Noel. Eu olhei incrédula e não disse nada, na verdade, não tive coragem de dizer a ele que eu também o havia visto.
- Perdemos a inocência quando descobrimos porque papai e mamãe trancam o quarto algumas vezes. Era angustiante bater naquela porta e eles não abrirem, sabia que algo estava errado, pois, na maioria das vezes era permitido entrar.
- Perdemos a inocência quando percebemos a eficácia dos jogos do amor e da sedução. Eles existem desde o momento em que nascemos, mas, quando perdemos a inocência, mudam-se os valores.
- Perdemos a inocência quando descobrimos o amor-desejo. Mas ele é tão misterioso que no mais puro amor, na união dos corpos, entre o desejo pleno e o amor, tornamo-nos de novo inocentes.

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